Artigos
A comunicação de idéias e conceitos fundamentais do VBHC através de artigos permite uma maior fluidez de informação, permitindo a atenção pontual de renomados especialistas a áreas em constante transformação. Além disso, muitos dos artigos são revisados por pares, sendo um meio importante, estabelecido e confiável de aprendizado e comunicação. Eles nos fornecem uma base que se renova constantemente, permitindo a compreensão atual e futura sobre a evolução dos sistemas em direção ao cuidado de saúde baseado em valor.
Wilson T, Bevan G, Gray M, Day C, McManners J. Developing a culture of stewardship: how to prevent the Tragedy of the Commons in universal health systems. Journal of the Royal Society of Medicine. 2020;113(7):255-261.
Um artigo didático e ilustrativo que trás uma visão contemporânea da Tragédia dos Comuns no contexto dos sistemas universais de saúde, ameaçando a sustentabilidade dos mesmos e impactando os desfechos em saúde da população. A Tragédia dos Comuns, como teoria econômica foi desenvolvida por Garrett Hardin e publicada na Revista Science em 1968, com base em um panfleto publicado mais de um século antes pelo Economista Inglês William Foster Lloyd, que descrevia como o comportamento inadequado de pastores de ovelhas levava ao sobrepastoreio, resultando em perda para toda a coletividade. A grande variação na prática médica e nos gastos em saúde e o incremento na intensidade do uso dos recursos são exemplos de como a Tragédia dos Comuns é tangibilizada nos sistemas de saúde. Por fim, são discutidos os 10 princípios propostos por Elinor Ostrom, primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Economia em 2009, para resolver a Tragédia dos Comuns e como eles poderiam ser aplicados nos sistemas de saúde.
Marcia Makdisse
Porter ME. What is value in health care? N Engl J Med. 2010;363(26):2477-81. doi: 10.1056/NEJMp1011024.
Trata-se de um artigo seminal e o mais citado na literatura científica sobre Value-Based Health Care (VBHC), de acordo com uma revisão publicada em 2015¹. Nele, Michael Porter trás de forma condensada os conceitos fundamentais de VBHC apresentados no livro Repensando a Saúde (Redefining Health Care)², publicado quatro anos antes, em co-autoria com Elizabeth Teisberg. A importância da mensuração, reporte e comparação dos desfechos é enfatizada como o passo mais importante para melhorar os desfechos e guiar as decisões para redução dos custos. Porter reforça o princípio de que os desfechos devem ser específicos e multidimensionais e o tangibiliza ao apresentar a hierarquia das métricas de desfecho, um framework utilizado nas iniciativas de VBHC para garantir que os desfechos estejam distribuídos nas três categorias e níveis propostos.
Marcia Makdisse
¹Fredriksson JJ, Ebbevi D, Savage C. Pseudo-understanding: an analysis of the dilution of value in healthcare. BMJ Qual Saf 2015; 24:451–457.
²Porter ME, Teisberg EO. Redefining Health Care: Creating Value-Based Competition on Results. Boston: Harvard Business School Press, 2006.
Referência|Doi:Porter ME, Lee TH. The Strategy That Will Fix Health Care. Harvard Business Review; 91(10):50-70.
Publicado sete anos após a publicação do livro Repensando a Saúde (Redefining Health Care)¹, é mais um dos artigos seminais de Value-Based Health Care. Nele Michael Porter e Thomas Lee, propõem uma agenda estratégica de valor para avançar a implementação de um sistema de saúde de alto valor. A Agenda de Valor tem 6 componentes interdependentes e que se reforçam mutuamente: Organização do cuidado em Unidades de Prática Integrada (UPI), mensuração de desfechos e custos para todos os pacientes, mudança para modelos de pagamento por bundles para ciclos completos de cuidado, integração das unidades de atendimento, expansão geográfica dos serviços de excelência e a construção de uma plataforma de tecnologia de informação que favoreça a estratégia de VBHC. De forma clara e didática, são apresentados e discutidas ferramentas que auxiliam na implementação de VBHC tais como os 11 elementos que caracterizam as UPIs e a hierarquia das métricas de desfechos. Embora reconheça que a transformação do sistema de saúde deverá ser liderada pelos médicos e pelas organizações prestadoras de serviços de saúde, os autores chamam a atenção para o papel dos demais stakeholders, incluindo os pacientes, as lideranças das organizações, planos de saúde e empregadores. Recentemente, os autores publicaram uma nova versão que basicamente mantém os mesmos elementos da agenda proposta oito anos antes mas com um detalhamento maior sobre a implementação das UPIs, no chamado ‘Playbook da UPI’.
Marcia Makdisse
¹Porter ME, Teisberg EO. Redefining Health Care: Creating Value-Based Competition on Results. Boston: Harvard Business School Press, 2006.
²Porter M, Lee T. Integrated Practice Units: A Playbook for Health Care Leaders. NEJM Catalyst Innovations in Care Delivery 2021; 2(1). DOI:10.1056/CAT.20.0237.
Referência|Doi: Porter M, Lee TH. Integrated Practice Units: A Playbook for Health Care Leaders. NEJM Catalyst Innovations in Care Delivery 2021; 2(1). DOI:10.1056/CAT.20.0237.
Resenha: Trata-se de uma releitura do artigo seminal publicado oito anos após a publicação do artigo ‘The Strategy That Will Fix Health Care’ (A estratégia que vai consertar a saúde), na Harvard Business Review, que trás uma ênfase maior no primeiro elemento da Agenda de Valor que propõe o redesenho do modelo de cuidado e oferece um verdadeiro manual (‘Playbook da UPI’) para os líderes de saúde que desejem implementar unidades de prática integrada (UPIs). Embora o layout da Agenda de Valor esteja um pouco diferente da figura inicialmente publicada, seus elementos permanecem inalterados. São apresentados os quatro passos-chave para implementação das UPIs, as questões a serem respondidas para que sejam definidas as condições clínicas, as necessidades dos pacientes e os ciclos de cuidado, além dos princípios que devem nortear a construção do time da UPI. Imperdível.
Marcia Makdisse
¹Porter ME, Lee TH. The Strategy That Will Fix Health Care. Harvard Business Review; 91(10):50-70.
Referência|Doi: Teisberg E, Wallace S, O'Hara S. Defining and Implementing Value-Based Health Care: A Strategic Framework. Acad Med. 2020;95(5):682-685. doi:10.1097/ACM.0000000000003122.
Resenha: Neste artigo, o time do Value Institute for Health and Care (VIHC) da Universidade do Texas em Austin, liderado por Elizabeth Teisberg e Scott Wallace, apresenta um novo framework para a implementação de Value-Based Health Care (VBHC), baseado em mais de uma década de pesquisas em organizações que melhoram os desfechos, ao mesmo tempo em que reduziram os custos e que pode servir como um guia para a implementação em outras organizações de saúde. O framework propõe cinco passos, incluindo: Definir um segmento de pacientes portador de determinada condição de saúde e entender suas necessidades compartilhadas, desenhar a solução que irá melhorar os desfechos, integrar times de aprendizagem, medir desfechos e custos e expandir parcerias necessárias para a implementação, escalabilidade e sustentabilidade do modelo. Os autores também tocam em um ponto muito importante da implementação de VBHC, que é a necessidade de educar os médicos e os estudantes de medicina para que se estabeleça um novo modelo mental no qual eles entendam seu papel no time assistencial, as soluções efetivas para melhorar o cuidado e a importância da mensuração de desfechos que importam para os pacientes. Eles usam como exemplo o modelo implementado na Dell Medical School (DMS), da Universidade do Texas em Austin, no qual os alunos de medicina são expostos aos princípios de VBHC ao longo dos 4 anos do curso, além experimentarem tais fundamentos na prática, durante os rodízios clínicos nas Unidades de Prática Integrada implementadas nos hospitais afiliados da UT Health Austin. Além disso, os alunos do terceiro ano podem se candidatar a uma das vagas do Mestrado em Transformação do Sistema de Saúde (Masters of Science in Health Care Transformation, MSHCT) (https://valueinstitute.utexas.edu/masters-program), oferecido pelo VIHC. Como aluna da Classe de 2021 do MSHCT, tive a oportunidade de conviver com os alunos da DMS, como colegas de turma, e testemunhar o impacto desse convívio intergeracional entre profissionais experientes e alunos de medicina e com o time do VIHC. Uma experiência de aprendizagem para levar para toda a vida. Que seja um exemplo a ser seguido pelas Escolas de Saúde, tanto pelas Escolas Medicina quanto pelas Escolas formadoras de outros profissionais de saúde espalhadas pelo mundo!
Marcia Makdisse
Referência|Doi: Makdisse M, Katz M, Ramos P, Pereira A, Shiramizo S, Neto MC, Klajner S. What Is a Value Management Office? An Implementation Experience in Latin America. Value Health Reg Issues. 2018;17:71-73. doi: 10.1016/j.vhri.2018.02.002.
Resenha: Nesse artigo, descrevemos nossa experiência na implementação do primeiro Escritório de Gestão de Valor da América Latina, mais conhecido como VMO, do inglês ‘Value Management Office’, no Hospital Israelita Albert Einstein (Einstein), em 2017. A inspiração para a implementação do VMO nasceu de três fatores principais: 1) Da leitura que Marcelo Katz e eu fizemos do artigo publicado por Robert S. Kaplan, em 2015, provocando os prestadores de serviços de saúde a implementarem um VMO a fim de acelerar a implementação da estratégia de VBHC¹, 2) Ao contexto do Einstein que havia definido Value-Based Health Care (VBHC) como um dos seus pilares estratégicos e dos investimentos feitos na estrutura para coleta de desfechos reportados pelos pacientes, realizada para várias condições clínicas, desde 2011, e em robusto modelo de relacionamento e gestão de um corpo clínico predominantemente aberto, e que havia sido reforçado pela criação dos Grupos Médicos Assistenciais (GMAs)², liderada pelo Dr. Sidney Klajner, à época vice-presidente e que viria a se tornar o Presidente da Organização, em 2016; e 3) pela minha nova posição na Organização que integrava as áreas de informação em saúde com a gestão da prática médica. Ancorada nessas forças, definimos o modelo de VMO e a agenda estratégica de valor adaptada ao nosso contexto organizacional.
Marcia Makdisse
¹Kaplan R, MacLean C, Dresner A, et al. Health care providers need a value management office. December 2, 2015. Available at: https://hbr.org/2015/12/health-care-providers-need-a-value-management-office.
²Klajner S. Engajamento médico: Grupos Médicos Assistenciais (Editorial). Einstein 2016; 14 (2):vii-xi. Doi: 10.1590/S1679-45082016ED3757.
Referência|Doi: Makdisse M, van Eenennaam F. The value of Diagnostics in Healthcare. VBHC Thinkers Magazine. 2021, Summer Edition: pp 16-20.
Resenha: Nesse artigo, escrito em parceria com o Prof. Fred Van Eenennaam, Presidente do Value-Based Health Care (VBHC) Center Europe, fazemos uma revisão sobre o papel do Diagnóstico sobre a geração de Valor em saúde, trazendo à reflexão o fato de que, em sua maioria, as iniciativas de implementação de VBHC estão focadas no tratamento das condições clínicas e nos consequentes desfechos e custos e que a importância da fase diagnóstica na tomada de decisão sobre a melhor estratégia de tratamento acaba sendo subestimada.
Um processo diagnóstico correto e seguro promove um tratamento precoce e uma recuperação adequada, ao passo que um diagnóstico inadequado ocasiona danos diretos e indiretos ao paciente, como por exemplo mais exames e tratamentos desnecessários. Apresentamos também as principais dimensões e métricas para medir a qualidade do processo de diagnóstico e enfatizamos o princípio de que o diagnóstico é um esforço colaborativo que demanda uma interação próxima entre todos os envolvidos e um pensamento sistêmico em relação ao seu papel no ciclo completo de cuidado de uma condição clínica, que se inicia com a avaliação da pertinência dos exames solicitados e que culmina no impacto que a interpretação e a comunicação dos resultados dos exames, considerando tanto a comunicação entre os membros do time assistencial quanto o paciente e sua família, sobre as decisões de tratamento e os desfechos em saúde obtidos.
Marcia Makdisse
Autores: Expert Panel on effective ways of investing in Health (EXPH) [Painel de especialistas sobre maneiras efetivas de investir em saúde].
Sobre o painel: O painel de especialistas é um grupo interdisciplinar e independente estabelecido pela Comissão Europeia para fornecer aconselhamento sobre questões relacionadas a sistemas de saúde eficazes, acessíveis e resilientes. Tem como objetivo apoiar a formulação de políticas baseadas em evidências, focadas na melhoria da qualidade e sustentabilidade dos sistemas de saúde, além de promover a cooperação na União Europeia para melhorar a informação, experiência e intercâmbio das melhores práticas.
Resenha: Trata-se de um interessante documento da European Commission para discutir e definir a abrangência do termo e utilização do cuidado de saúde baseado em valor. Criado para enfrentar o desafio de garantir a sustentabilidade financeira do sistema de saúde universal e encontrar recursos para financiar inovações, o documento reitera que o VBHC é essencial na correta utilização dos recursos.
No início do documento há a demonstração do interessante conceito de solidariedade, sobre o qual os sistemas de saúde Europeus baseiam-se. A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia e o Pilar Europeu dos Direitos Sociais garantem o acesso universal a cuidados de saúde a preços acessíveis, sejam preventivos ou curativos, e de boa qualidade.
Os autores incluem sessões de discussão sobre as várias nuances do termo “valor”, demonstrando que não há definição única de "valor" nos cuidados de saúde baseados em valor. A definição de valor é subjetiva e o que é considerado valioso pode diferir entre pacientes, médicos, prestadores de serviços de saúde, formuladores de políticas ou partes interessadas da indústria.
A aplicação prática do conceito também é discutida, demonstrando a utilização dos "cuidados de saúde baseados em valores" para informar a tomada de decisão e contribuir para tornar os sistemas de saúde mais eficazes, acessíveis e resilientes.
Por último, os especialistas sugerem a necessidade de realocação de cuidados de baixo valor para intervenções de alto valor, recomendando a implementação de uma estratégia de longo prazo para alcançar uma mudança cultural que possibilite a liberação de recursos para reinvestimento em cuidados de alto valor, acompanhada de um forte sistema de governança.
Tenha uma ótima leitura!
Pedro Magalhães.