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Quais os Principais Desafios da Implementação de VBHC na América Latina?

Marcia Makdisse, MD, PhD, MBA, VBHC Green Belt, MSc Health Care Transformation

Educadora, Pesquisadora & Mentora em VBHC | VBHC Educator, Researcher & Advisor.



Informação (34%), buy-in dos stakeholders (22%), modelo atual de remuneração dos serviços de saúde (17%) e fragmentação do cuidado (14%) são os 4 principais desafios à implementação de VBHC citados por executivos de 70 organizações de saúde de cinco países latino-americanos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México).

No que tanje à informação, os principais desafios estão relacionados à disponibilidade de recursos humanos e tecnológicos. A escassez de mão-de-obra especializada em Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) tem criado uma dificuldade não apenas para a contratação mas também para a retenção desses profisionais, disputados por vários setores e não apenas pelo setor da saúde. Nossos dados estão de acordo com os achados da pesquisa da Brasscom, Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais, que projetou uma demanda de 159.000 talentos por ano e demanda total de 797.000 talentos entre 2021 e 2025. As principais áreas onde faltam profissionais são: desenvolvimento de mobile, computação na Nuvem, Data Analytics, com conhecimentos de Gestão da Informação, Big Data e Ciência de Dados, segurança cibernética e inteligência artificial.

O tamanho do investimento que as organizações precisam fazer em TIC também é expressivo e demanda uma mudança na forma como os investimentos tradicionalmente vinham sendo feito pelas organizações de saúde. Em geral, a maior parte dos recursos era destinada à aquisição de tecnologias médicas com pouco investimento, proporcionalmente, em plataformas de TIC e serviços voltados à coordenação e navegação do cuidado.


“Creio que não tem como implementar qualquer modelo de pagamento baseado em valor se você não tiver um Sistema de informação forte. Nós fizemos um investimento inicial de quase 12 milhões de dólares e teremos que continuar investindo de foma contínua. O tamanho do investimento que estamos fazendo em Tecnologia de informação é cerca de metade do que estamos investindo em equipamentos médicos, ou seja, se investirmos 15 milhões de dólares por ano em equipamento médico, com certeza iremos investor 7 ou 7,5 milhões de dólares em Sistemas de TI.” (Entrevistado #13),

Obter o buy-in dos executivos da saúde foi o segundo maior desafio citado por 22% dos participantes da Survey. A maioria citou a dificuldade em engajar os médicos na implementação de modelos de VBHC. Nossa experiência no desenho de modelos de cuidado e pagamento nos mostra que a discussão transparente direcionada por dados e por evidência científica e o co-desenho dos modelos em parceria com os líderes clínicos e times multiprofissionais tem sido exitosa desde que os profissionais, movidos pelo propósito de otimizar o valor para os pacientes e interessados em colaborar com tais modelos, sejam envolvidos desde o inicio e participem ativamente na sua elaboração. Um outro ponto a ser considerado é o desconhecimento dos profissionais da linha de frente sobre os conceitos fundamentais de VBHC. Temos observado um engajamento crescente à medida que o processo de educação e mentoria avança ao longo da jornada de co-criação dos modelos. Dois estudos que realizamos com 1.000 médicos e mais de 3.000 alunos de medicina nos mostraram baixo grau de familiaridade dos mesmos com VBHC, sendo 27% entre os médicos e 14% entre os estudantes.


“Percebemos que apenas envolver os gestores e as lideranças, e mesmo os executivos médicos do hospital não estava sendo suficiente. Então começamos a identificar os líderes médicos que tivessem um propósito. O time de cardiologia mostrou um forte alinhamento e vontade de colaborar com este novo modelo então iniciamos o projeto com eles. A ideia foi identificar todos os líderes médicos, ouvir suas opiniões e co-criar o novo modelo com eles. Esse é o princípio. Uma vez que o modelo esteja desenhado, apresentaremos para a liderança do hospital e da área comercial. Um movimento bottom-up. Não inicie a conversa falando de questões financeiras, inicie com o propósito.” (Entrevistado #47)

Além do buy-in dos médicos, também foi citada a dificuldade em se obter o engajamento da alta liderança das organizações e dos executivos das fontes pagadoras em apoiar a implementação de modelos de VBHC:


“Fee-for-service continua predominando em nossa organização. Às vezes, tenho a impressão que os pagadores reagem como se houvesse uma pegadinha por trás das propostas de modelos alternativos de pagamento que fazemos e também acho que eles acreditam que implementar tais modelos pode ser muito dispendioso porque requer uma série de controles que atualmente não existem. Além disso, esses novos modelos geralmente são desenhados para grupos muito específicos de pacientes e, provavelmente, exigirão muito trabalho para um impacto considerado pequeno, pois a grande maioria dos pacientes não se enquadra nesses grupos. Então eles não veem isso como uma forma de cortar custos. Se tivessem um sistema de informação adequado, seria diferente .”(Entrevistado #51)

Posso dizer que o Board entende esse movimento de VBHC, mas o foco atual está mais em buscar, aprender e testar novos modelos de pagamento. Minha percepção é que o Board ainda não entende completamente o conceito de VBHC como um todo, como a parte relacionada ao modelo de cuidado e a busca de melhores desfechos para as principais condições clínicas.”(Entrevistado #32)

Mudar o modelo atual de remuneração, no qual pedomina o fee-for-service foi o terceiro desafio mais citado.


“No último ano, conseguimos controlar os custos por meio do engajamento dos médicos, de tal maneira que isso se tornou uma experiência de aprendizado. E tivemos que implorar para os planos de saúde tentarem um novo modelo de pagamento, porque eles preferiam continuar pagando por serviço". (Entrevistado #12)

O quarto desafio mais citado foi a fragmentação do atual modelo de cuidado:


“Nós não temos uma rede de atenção primária conectada ao hospital, então a fase pré e pós-alta é oferecida nos consultórios dos médicos nas proximidades do hospital e nós não temos acesso aos prontuários médicos. O cuidado é fragmentado e uma vez que o paciente recebe alta, nós perdemos o seguimento deles.” (Entrevistado #38)

Outros desafios incluíram:

O Modelo de Governança:

“A diretoria executiva, mesmo sendo composta por médicos, ainda se orienta pela lógica do volume e dos resultados financeiros, em vez de ser guiada pela lógica da reengenharia do cuidado para alcançar esse resultado financeiro. É um dilema.” (Entrevistado #47)

Volume suficiente para sustentar os modelos de VBHC:


“Algumas linhas de cuidado estão bem organizadas, como a de cirurgia cardíaca, mas nosso volume ainda é muito baixo. Na artroplastia de quadril e de joelho e no câncer de mama, as linhas de cuidado foram pensadas tanto para projetos públicos quanto para os planos de saúde privados mas o problema é que também não temos um volume muito significativo de pacientes neste momento.”(Entrevistado #18)

Regulação:


“A forma como a regulação da saúde está estruturada no meu país, o que implica que cada paciente, após um atendimento ambulatorial ou hospitalar, deve receber uma fatura detalhada com a relação de todas as suas despesas como insumos, medicamentos, consultas, exames diagnósticos, etc. tornou a própria regulação um obstáculo para avançar com outros modelos de pagamento vinculados a ciclos de cuidado mais longos e integrados. Todos nós precisamos avançar juntos, fornecedores, pagadores e reguladores.” (Entrevistado #06)

Posicionamento competitivo:


“Entendemos que os atuais modelos de pagamento e de cuidado que oferecemos atualmente para o mercado não são ideais. E nós entendemos que o paciente cada vez exige mais, pede que entreguemos um valor que vá além do serviço pelo qual estamos sendo remunerados, nós entendemos que o estudo da entrega de valor ao paciente vem avançando, é algo difícil de fazer, encontrar a solução para isso é difícil, mas entendemos que isso seja entregar valor ao paciente.”(Entrevistado #37)

Esperamos que o mapeamento desses desafios possa contribuir para iniciar uma discussão entre os diversos stakeholders em busca de oportunidades e soluções para que continuemos avançando na implementação de value-based health care na América Latina.


Referência:


Makdisse M, Ramos P, Malheiro D, et al. Value-based healthcare in Latin America: a survey of 70 healthcare provider organisations from Argentina, Brazil, Chile, Colombia and Mexico. BMJ Open 2022;12:e058198. doi: 10.1136/bmjopen-2021-058198


Acesse o artigo na íntegra: https://bmjopen.bmj.com/content/12/6/e058198


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